O que acontece no cérebro durante a EMT?

EMT: que acontece no cérebro durante a estimulação?

Por Paris Brain Institute
 

A EMT (Estimulação Magnética Transcraniana) é um procedimento de estimulação não invasivo que utiliza campos eletromagnéticos transitórios para atuar de forma focada em uma determinada região do cérebro. Pode ser usado como terapia para depressão, doença de Parkinson ou transtornos obsessivo-compulsivos em pacientes resistentes a tratamentos medicamentosos. Pesquisadores do Paris Brain Institute também mostraram efeitos duradouros da EMT na reabilitação após um derrame.
 

Efeitos Terapêuticos da EMT em humanos
Geralmente é considerado que a estimulação magnética de alta intensidade usada em humanos gera um campo elétrico suficiente para modular a atividade dos neurônios: desencadeando impulsos nervosos que codificam informações cerebrais e induzindo fenômenos de plasticidade nas redes neuronais da região alvo.
 

No entanto, embora sua eficiência terapêutica tenha sido reconhecida em vários casos, os mecanismos que permitem à EMT restaurar ou modificar de forma duradoura as atividades neuronais nas regiões cerebrais estimuladas permanecem pouco compreendidos.
 

EMT a nível neuronal
Pela primeira vez, Manon Boyer e Séverine Mahon, respectivamente aluna de doutorado e pesquisadora na equipe “DYNAMICS OF EPILEPTIC NETWORKS AND NEURONAL EXCITABILITY” em colaboração com a equipe “FRONTLAB: FRONTAL FUNCTIONS AND PATHOLOGY” (institutducerveau-icm.org) do Dr. Antoni Valero-cabre no Brain Institute, demonstraram diretamente o efeito da EMT de baixa intensidade na excitabilidade e atividade espontânea de neurônios no córtex cerebral, atividade que permite que essas células se comuniquem entre si e transmitam informações para órgãos e músculos periféricos. Este trabalho foi publicado no The Journal of Physiology.
 

Os pesquisadores combinaram a aplicação de estimulação magnética repetida de baixa intensidade ao córtex somatossensorial de um modelo experimental com registro intracelular da atividade elétrica dos neurônios subjacentes; uma técnica que permite entender o efeito da EMT visto de dentro dos neurônios.
 

Eles mostraram que a EMT repetitiva de baixa intensidade também pode desencadear potenciais de ação nos neurônios e induzir plasticidade expressa por uma diminuição duradoura na atividade espontânea dos neurônios, na sua excitabilidade e na amplitude dos eventos sinápticos (refletindo uma diminuição na transmissão de informações entre os neurônios). Essas alterações não são reproduzidas estimulando diretamente as células com uma corrente elétrica de mesma intensidade, demonstrando diretamente o papel específico do campo magnético.
 

Novos caminhos terapêuticos para EMT
Em conclusão, este trabalho mostra que a EMT de baixa intensidade tem efeitos duradouros na excitabilidade e atividade de descarga dos neurônios no córtex e abre novos caminhos terapêuticos para patologias em que se observa hiperexcitabilidade cerebral, como epilepsia ou síndrome de Tourette. De fato, na epilepsia, observamos uma atividade elétrica anormalmente alta de um conjunto de neurônios no córtex cerebral que então formam um foco epiléptico.
 

Este trabalho mostra que a EMT de baixa intensidade, uma terapia não invasiva que pode ser facilmente implantada à beira do leito do paciente, é uma abordagem muito promissora para pacientes com epilepsia.
 

Referência Boyer M, Baudin P, Stengel C, et al. In vivo low-intensity magnetic pulses durably alter neocortical neuron excitability and spontaneous activity. J Physiol. 2022;600(17):4019-4037. doi: 10.1113/JP283244 (https://doi.org/10.1113/JP283244)
 

Tradução e adaptação livre do texto original em inglês do site Paris Brain Institute
Publicado em 06 de Outubro de 2022